Chanfana

Segundo a lenda, a chanfana terá surgido no Mosteiro de Semide. Até finais do séc. XIX, todos os agricultores e rendeiros eram obrigados ao pagamento dos foros. Assim, o Mosteiro recebia dos moradores do seu couto os foros a que estavam obrigados: galinhas, vinho, azeite, dias de trabalho, cabras e ovelhas, eram formas de pagamento. Durante o mês de Agosto e até ao dia de S. Mateus, as freiras de Semide recebiam as suas «rendas». Muitos dos moradores pagavam com cabras e ovelhas. Ora, como as freiras não tinham disponibilidade nem meios para manter tão grande rebanho, descobriram uma fórmula para cozinhar e conservar a respetiva carne, aproveitando o vinho que lhes era também entregue pelos rendeiros, o louro que tinham na sua quinta, bem como os alhos e demais ingredientes. Surge, assim, a chanfana que era religiosamente guardada ao longo do ano nas caves frescas do mosteiro. A carne assada no vinho mantinha-se no molho gorduroso solidificado, durante largos meses.
Segundo outros, terá sido durante a terceira invasão francesa que as freiras inventaram esta fórmula gastronómica para evitar que os soldados franceses roubassem as cabras e as ovelhas da região.
Há ainda uma outra versão que defende que a receita da chanfana nada tem a ver com o Mosteiro de Semide, mas apenas com as invasões francesas. Diz-se, então, que, quando as tropas francesas andaram pela região da Lousã e de Miranda do Corvo, a população envenenou as águas para matar os franceses. Mas era preciso cozinhar a carne habitualmente consumida (de cabra e de carneiro) e, como a água estava envenenada, utilizou-se o vinho da região.
A chanfana é confecionada com carne de cabra velha, revelando um enorme aproveitamento dos parcos recursos existentes na época. A cabra servia durante toda a sua vida para a subsistência das famílias, procriando e dando leite, estrumando as terras. Quando já velha e sem utilidade procriadora era então abatida para consumo, sendo aproveitada a sua carne para a chanfana e as tripas para os negalhos. A sua pele era ainda curtida e utilizada na confeção de artefactos.
A chanfana é um prato típico muito apreciado, não só no concelho de Miranda do Corvo como praticamente em toda a região centro, sendo por isso servida na maioria dos restaurantes da zona.
De salientar que continua a ser o prato «obrigatório» quando decorrem as festas religiosas anuais no concelho.
Tempera-se com sal, cabeças de alho inteiras, colorau, pimenta e louro. Cobre-se com vinho tinto. Vai ao forno de lenha, previamente aquecido. Durante o tempo em que a Chanfana está a assar, normalmente cerca de 4 horas, a boca do forno deve manter-se completamente vedada com barro. Geralmente, a Chanfana confeciona-se na véspera de ser consumida. Assim, deixa-se ficar no forno até à hora de ser servida. Nessa altura, o barro é picado para se abrir a porta do forno. Serve-se, geralmente, com batata cozida e grelos.